(Caso você não tenha lido ainda, o Ato 1 está disponível aqui)
“É tarde demais para parar o que nos aguarda. Eu os avisei. Eu mostrei minhas gravações. Eles continuaram a cavar mais fundo. Os distúrbios sísmicos moveram as coisas de uma maneira muito pior do que a escassez do petróleo”, disse Lyudmila Kovaleva no microfone. A cientista excêntrica estava falando disso por meses, pedia aos líderes mundiais para mudarem o rumo que estava sendo seguido, mas sem sucesso. Suas entrevistas mais recentes levavam um tom mais desesperado, fatalístico, como se ela houvesse se conformado com o que estava por vir.
Fora de seu estúdio, ela ouvia sirenes. Estavam se aproximando dela. Ela não tinha muito tempo de sobra.
“Para quem estiver ouvindo, preparem-se para o pior. O mundo como você conhece acabou. Este pode ser o último vídeo meu que vocês verão. Eu imploro para que todos escutem. Fortifiquem-se. Escondam-se no chão.”
Um estrondo forte contava a Lyudmila que as autoridades haviam quebrado sua porta. Ela agarrou sua câmera da estante e partiu, desligando a gravação ao vivo. Ela tinha feito o que pôde, mas não era nem perto do suficiente. Se os governos não tomassem uma ação, ela tinha que deixar claro o que estava por vir. Gravações dos Monstros das profundezas seriam enviadas em breve. Os documentários confidenciais que ela havia gravado, toda a pesquisa que ela compilou, poderiam ser assistidos em qualquer computador.
O Project Ark estava em andamento como um plano de reserva. Outros levaram suas descobertas e tentaram se preparar para o que estava por vir. Alguns estavam tentando lutar contra os invasores. Outros se fecharam completamente. A humanidade resistiria. Lyudmila Kovaleva garantiu que isso acontecesse.
Agora era a hora da própria Lyudmila desaparecer.
Ela estava quase no fim do corredor, em direção à janela que permitiria que ela escapasse. Ela se debruçou sobre a janela, quebrando o vidro, só pra ver seu casaco preso num cassetete azul. Ela virou a cabeça para trás. O policial se debruçou, segurando-a, seu uniforme sem fazer um bom trabalho em mostrar seus músculos. Os óculos de sol escondiam seus olhos enquanto ele olhava para ela.
“Lyudmila Kovaleva, você está presa por traição e atos sediciosos, incitando pânico através de transmissões ilegais, assim como eco-terrorismo.”
Lyudmila zombou com um sorriso enquanto soltou seu casaco, caindo do segundo andar. Ela só precisava “aterrissar” e…
A dor atravessou seu tornozelo ao finalizar a queda. Ela não conseguiu. Lyudmila tropeçou e caiu enquanto outro policial andava em sua direção. Como o primeiro, os óculos escuros escondiam seus olhos, seu cabelo longo passando dos ombros. “Tentando correr, passarinha? Você cantou alto demais. Agora, tá na hora de ir pra gaiola.”
Ele a agarrou e puxou para que ficasse de pé, os braços dela sendo puxados para as costas enquanto ele colocava as algemas. O policial a empurrou para dentro do seu carro enquanto aguardava o parceiro.
“Pegou ela?” Perguntou o primeiro.
“Afirmativo, já coloquei no camburão. Você dirige na frente. Garanta que nenhum dos amigos dela que possam estar na espreita tentem nos abordar.”
O primeiro afirmou com a cabeça, colocando seu capacete enquanto sentava em sua moto. Com sirenes estridentes, ele partiu, o captor da Lyudmila seguindo-o com o carro.
“Vocês não podem parar isso escondendo a verdade”, protestou Lyudmila, mesmo sabendo que suas palavras entrariam por um ouvido e sairiam pelo outro. “Todos os seus chefes sabem o que vai acontecer. Não estou exagerando quando eu digo que isso será o fim do mundo”.
“Moça, eu já carreguei vários bêbados na minha vida que falavam as mesmas coisas que você tá falando agora. Então eu vou pedir encarecidamente pra você ficar caladinha.”
Lyudmila encostou no banco silenciosamente pelo resto do trajeto. Eles estavam levando-a pra longe das cidades conforme dirigiam por algum tempo. Ela se perguntou se chegaria a ter um julgamento, ou se só desapareceria antes que isso pudesse acontecer.
“Chegamos”.
Finalmente, o carro parou, e Lyudmila foi puxada para fora pelo policial. Ela tropeçou num canteiro de obras do que viria a ser uma nova prisão. Ela estava cercada de arame farpado e concreto. Guardas patrulhavam enquanto a equipe de construção trabalhava.
Kovaleva mancou para frente, apoiada no policial. Ela avistou um dos trabalhadores, um homem uma cara de carrancudo. Ele estava lendo algumas plantas, sua irritação crescendo na cara. Ele parecia alguém prestes a explodir tudo.
Conforme andavam, Lyudmila pisou em falso deliberadamente, caindo no chão enquanto sentiu uma pontada de dor muito forte novamente.
“Você está bem?” O operário perguntou, colocando as plantas no chão para ajudá-la.
“Sim, estou… bem. É só uma dor”. Lyudmila disse, enquanto ela escorregou um pendrive nas mãos do operário. Ela não podia arriscar dizer pra ele o que fazer com isso. Ela só podia ter esperança de que ele teria curiosidade o suficiente para assistir, e inteligente o bastante para não mencionar nada sobre isso. Ele não dava a impressão de um tolo.
“Vamos… continue andando”, disse o policial atrás dela, empurrando-a com o cassetete. “Fique longe dela. Ela não vai falar com ninguém por um bom tempo”.
Lyudmila franziu a cara e continuou caminhando em direção à prisão. Ela tinha feito tudo o que podia, pelo mundo e por si mesma. Agora, o destino estava fora de suas mãos”.
Lyudmila não sabia o quanto já havia esperado. Ela estava sob supervisão visual o tempo todo, apesar de terem confiscado sua câmera. Baseando-se nas refeições, assumindo que fazia uma refeição pela manhã e outra pela noite, ela estava ali por cinco dias. Sua única companhia eram os guardas que a zombavam. A televisão contou que existiam protestos, conforme diferentes grupos exigiam respostas. O governo a declarou como fugitiva e estavam manchando o seu nome.
Enquanto assistia o jornal de notícias, a televisão desligou, logo antes da prisão entrar num breu completo. Lyudmila sentou-se no beliche. Ela ouvia gritos. Houve alguns tiros. Algum maquinário pesado. Estrondos.
De repente, houve luz. Uma grande escavadeira arrebentou as paredes da prisão, revelando o mundo para Lyudmila pela primeira vez em quase uma semana. A equipe de construção estava protestando, brigando com policiais. Sentado na escavadeira estava o operário que ela havia passado o pendrive.
“Eu vi”, disse ele, sua cara cheia de raiva. Sua mão estava fechada num punho. “Eu vi tudo. O que você viu lá no Abismo. Aqueles monstros. E eles sabiam. Eles sabiam!”
“Eles sabiam”, disse Lyudmila, com calma. Ela andou em direção ao trator. “Mas nós não vamos parar por aqui. Ainda temos muito trabalho pela frente”.
Ela já ouvia os policiais vindo atrás dela. Ela subiu na máquina, se agarrando fortemente. “Eu preciso que você me tire daqui!”
“Nenhuma parede pode nos parar. Vamos destruir tudo nesse lugar!”.
Conforme Lyudmila era levada embora, ela pôde ver a verdade nas palavras dele. A prisão que era para abrigar aqueles que diziam a verdade começou a se desfazer enquanto a batalha continuava.
Mas a guerra de Lyudmila só havia começado.
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“Esse era o começo do fim. Os dias finais para Os Antigos!” Diane disse com uma reverência que normalmente era incomum em sua voz. Ela encostou na cadeira, pensando na direção em que esta história estava levando.
“Realmente”, disse uma voz digitalizada que saiu dos alto-falantes. Imediatamente, Diane corrigiu sua postura, em alerta. “He, he, criança, não se preocupe. Não vou te fazer mal algum”.
“Quem é você?” Diane olhou com esguelha para o computador. Obviamente, a máquina em si não poderia estar falando com ela. Não podia estar ciente dela.
“Eu sou o que sobrou de Lyudmila Kovaleva. Ou devo dizer, eu sou o que ela se tornou”, a imagem na tela começou a piscar. A gravação de vídeo se fechou conforme um rosto apareceu em seu lugar, um rosto que Diane reconhecia. Ela o vira estampado em muitos posters de procurado do Secto do Metal, dentro da Arena.
“Artificer!”
“He, he, de fato! Estou esperando há milênios para que alguém encontrasse esses dados antigos que estavam armazenados. Para alguém ver a verdade.”
“A verdade do que?”
“Tudo”, disse Artificer, seu rosto digital ficou sério outra vez. “Obtivemos sucesso em garantir a sobrevivência da humanidade, mas parece que as lições aprendidas são sempre esquecidas. Eu tenho assistido a ascensão do Secto do Metal. Meu trabalho foi pervertido por pessoas como os que lideram a Maximatics. Os Patronos brigam entre si e jogam seus jogos de poder. Todos escondem a verdade das pessoas”.
Foi como que uma luz tivesse aparecido na cabeça da Diane. “Você era a informante anônima”.
“Você é esperta. Eu gosto disso”, a imagem da Artificer sorriu. “Eu precisava de um repórter que não pudesse se intimidar em compartilhar essas histórias. Você tem a tocha, Diane Doplin, e agora eu te dei o fogo. Deixe o mundo ver as histórias da nossa luta. Dos que tentaram impedir o apocalipse”.
De repente, registro após registro, arquivo de áudio após arquivo de áudio, vídeo após vídeo, começaram a aparecer, desbloqueados e sem restrições, conforme os olhos de Diane se moviam por todos os lados. Isso incluía semanas de informações para investigar!
“E talvez poderemos ajudar a Jada a manter sua promessa. Não vamos mais permitir que aqueles que foram deixados para trás sejam esquecidos novamente”.